Desenvolver o Potencial Humano

A fundadora e gestora da ODPH, Kauanna Batista escreveu um artigo para o blog “Mude, Você, o Mundo!” sobre a importância do amor na hora de fazer e manter qualquer projeto social e você pode conferir o conteúdo na íntegra aqui! =)

 

 “A educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo” – Nelson Mandela.

Concordo plenamente com a frase supracitada, pois nada pode mudar o mundo sem que você tenha uma boa educação. É a partir dela que o ser humano pode se desenvolver, evoluir, crescer, adquirir conhecimentos e assim construir uma vida com qualidade e também contribuir com o desenvolvimento da sociedade sendo e atuando como uma pessoa ética e responsável.

Foto: Kauanna Batista

Não podemos entender educação, em um âmbito escolar ou acadêmico, mesmo considerando a importância dos conhecimentos formais que, certamente, deve sempre ser valorizado e reconhecido. Cabe lembrar que além dos muros das escolas, nós temos todo um contexto social, começando pela família, amigos, bairro, cidade, religião e muitas outras, que trazem uma bagagem social e informações em que o indivíduo se identifica e começa a agir conforme aquela realidade.

 O que as pessoas precisam, em especial as crianças e adolescentes, é que exista alguém que as motive, acredite e dê a oportunidade para que elas se desenvolvam. Nunca subestimando o quanto elas podem fazer e o quanto sabem de algo.  Eu mesma aos 16 anos de idade tive uma oportunidade, um convite, quando um agente social da comunidade Vila Torres se deu conta de que para mudar a realidade dos adolescentes da região, ele precisava criar oportunidades para que se envolvessem a ponto de tornarem-se agentes de mudança.

A Vila Torres fica a dez minutos do Centro de Curitiba, tem em seu entorno a PUCPR, o Colégio Medianeira, Teatro Paiol, Colégio Esperança e a Federação das Indústrias do Paraná (FIEP), além de estar próximo de um famoso ponto turístico, o Jardim Botânico. A região intercepta três bairros de classe média (Jardim Botânico, Rebouças e Prado Velho), porém nada disso importa, ainda parece que muros invisíveis separam o universo Vila Torres do restante da cidade de Curitiba. Muitas pessoas nem mesmo sabem que esta região existe, mesmo passando todos os dias pela vila.  O que nos faz perceber que esta comunidade sofre com os atrasos de um processo histórico cultural e assistencial, e ainda carece de políticas públicas, que deem o mínimo para que ela evolua.

 Assim, em 2009 fui convidada a fazer parte da mudança, eu, claramente, na época pensava na faculdade, e outras coisas a mais, como cursos e qual profissão seguir, mas aceitei sem saber o que realmente podia oferecer, porém, o primeiro passo foi aceitar, enxergar a realidade e pensar em meios para mudar. Com o tempo fui me ambientando e entendendo o que era o trabalho social, o que era ser voluntário, o que era não ter a oportunidade de realmente se desenvolver.

 Foi aí que percebemos que tudo o que era preciso naquele momento, era reconhecer e dar oportunidade para aqueles que aos olhos externos são marginalizados, por causa de um problema crônico. Então, em setembro de 2009 realizamos o Dia da Cultura Vila Torres, foi um dia em que organizamos um grande evento dentro da comunidade, com direito a palco, som e personalidades importantes da política na época, e simplesmente oportunizamos aos moradores se apresentarem no palco e assim mostrarem seu talento.

Sim, tinha muitos talentos, músicas, dançarinos, cantoras, muitos que talvez estavam esperando esse momento, foi um despertar para todos, onde percebemos que, poderíamos fazer muito mais e não ficar só esperando. Assim, com o passar do tempo, aproveitamos algo simples, que para muitos não poderia fazer a diferença, mas fazia ali naquele contexto.

 Começamos a arrecadar livros dos Catadores Ambientais (carrinheiros) que encontravam esses materiais nos lixos de Curitiba e também na própria comunidade, então pegava alguns livros e caminhava da casa da minha mãe até a pracinha da comunidade chamando as crianças que estavam na rua para me acompanhar e viajar no mundo dos livros.  Nada foi do dia para a noite, mas foi tudo muito rápido. Logo conseguimos um parceiro, conseguimos alugar um espaço e lá estava eu ensinando e aprendendo com as crianças em nossa Biblioteca Comunitária.

Novamente percebemos que poderíamos fazer mais e assumir um papel mais atuante na formação das crianças e adolescentes da região, assim, em dezembro de 2009 constituímos a ODPH (Organização de Desenvolvimento do Potencial Humano) que tem como missão “Ser a oportunidade de Cultivar Sonhos para uma sociedade mais Humanizada” – nós criamos momentos de aprendizagem que estimulam a criatividade e o desenvolvimento humano , com o propósito de potencializar as capacidades  sociais de crianças, adolescentes, jovens e adultos visando uma rede de transformação social. 

Mas, para realizar e atingir nosso propósito, prezamos muito pela qualidade e segurança e regularidade da instituição, desde 2009 até hoje, estamos sempre em busca dos títulos e certificados que validam nossa atuação, durante esse processo em 2014 surgiu a oportunidade de participar do Projeto Legado, um momento muito oportuno em que estávamos passando por uma grande transição, partindo para a busca de novos parceiros, patrocinadores e investidores.

 Percebemos que tínhamos conteúdo, história, mas faltava algo que também é muito importante, dados, indicadores, estatísticas que comprovavam a importância do trabalho ofertado. O Projeto Legado contribuiu muito com o desenvolvimento da ODPH, apresentou caminhos a seguir, horizontes que poderíamos alcançar com mais qualidade, foi um ano de capacitações, encontros em que não só aprendemos, mas também compartilhamos e conhecemos outras ações, projetos, pessoas que têm os mesmos objetivos.

 Confesso que nem tudo que foi aprendido teve uma aplicação imediata, pois, tivemos que adaptar a nossa realidade e isso, também leva tempo, ao longo dos anos fomos aprimorando, era uma coisa de cada vez. Hoje, percebemos o impacto que causamos na sociedade, com ações ainda pequenas, atuamos em um espaço com menos de 42 (quarenta e dois metros quadrados), tendo capacidade de atender 40 (quarenta crianças e adolescentes) com faixa estaria de 06 a 12 anos, como público – alvo, sendo 20 (vinte) por período.  Mas, com resultados que são significativos.

Para realizar nosso relatório conseguimos analisar os dados que representam muito, tendo como referência o ano de 2015 – detectamos que atendemos 57,5 % de crianças que pertencem as famílias que recebem menos de um salário mínimo. E que dando a oportunidade e estimulando a curiosidade das crianças e adolescentes atendidos, percebeu-se a mudança em seus aspectos cognitivos, com destaque de 40 % para leitura. Já considerando aspectos de comportamento, temos 42,5 % para respeito e amizade e 22,5% para criatividade. Esses dados revelam que o desenvolvimento está acontecendo, é um processo longo e diário, mas que com determinação, surte efeito.

 E para finalizar, apresento o número com referência ao voluntário que ocorreu dentro do espaço da ODPH na Vila Torres, resultado que realmente nos alegra e motiva a continuar trabalhando para mudar não só a realidade local, mas também a cultura e estigma que se tem, em 2015 tivemos 38 voluntários, já em 2016 subiu para 126, desses 46 % aplicaram ações dentro do programa da instituição, fora os que vieram de faculdades e outros projetos, e 80,2 % foram  voluntários de outras regiões e 18, 3 % da própria comunidade.  Isso mostra que estamos no caminho certo, estamos apenas, melhorando a cada dia nosso programa e projetos e dando oportunidades para que quem busca se desenvolver, aproveitar e se juntar a nossa rede, assim não só se desenvolvendo como indivíduo, mas contribuindo com o crescimento da comunidade e sociedade como um todo, pois, tudo que fazemos, reflete na sociedade, a cidade, é reflexo das comunidades, o quanto mais nos desenvolvermos, mais positivo será nosso presente e futuro.

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